A primeira vez que fui morar fora do país me definiu de uma forma que poucas outras coisas na vida fizeram. Eu tinha 16 anos quando embarquei pra Califórnia pra fazer meu primeiro intercâmbio. A minha primeira família foi um terror. Eu era basicamente proibida de receber (e fazer) ligações, até mesmo para os meus pais, não podia comer fora do horário deles (o alarme do térreo da casa, onde ficava a cozinha, era ligado durante a noite por exemplo) e em certo momento, minha “mãe americana” começou a acusar o marido de me dar “atenção” demais. Pra completar, ela descobriu que estava com câncer de mama.
Foi uma barra. Eu chorava todos os dias, sozinha, num país estranho, com outra cultura. Sem contar que eu ainda não tinha amigos na escola, nem falava inglês fluente.
Coisa de um mês depois, eu “fugi” mais cedo da escola pra ligar de um telefone público pros meus pais, chorando, pedindo pra voltar. Foi quando meu irmão pegou o telefone e falou algo que eu nunca esqueci: “Clara, você não pode desistir. Tenho um monte de amigos que fizeram intercâmbio e ninguém desistiu. Não vai ser você, minha irmã, que vai. A gente vai resolver isso aí sem você voltar derrotada. A gente vai até o fim.”
E eu fui. Chorei um monte ainda, mas mudei de família (pra uma maravilhosa) e completei meu intercâmbio até o fim. Depois disso, eu criei quase uma obsessão em terminar tudo o que começo. Em ir até o fim das minhas escolhas, sem largar as coisas pela metade por mais complicadas ou difíceis que elas se tornem. Nas coisas mais simples do dia a dia até meus sonhos mais altos.
A verdade é que depois desse episódio no meu primeiro intercâmbio, eu não consigo lembrar de nenhum momento na minha vida que eu possa pensar: “caramba, eu desperdicei essa chance, eu poderia ter me esforçado mais aqui, eu poderia ter tentado mais uma vez ali”. E isso tá longe de significar que não errei, não tropecei, não tomei decisões erradas. Mas, no fim, eu tenho certeza que lutei até o fim pelas coisas que valiam a pena pra mim.
Foi assim que fiz parte da faculdade de jornalismo na Espanha, que morei na França, que comecei a trabalhar com jornalismo esportivo, que me tornei comentarista de futebol, que mudei de Salvador para o Rio de Janeiro, que lancei três livros e que me mudei pra Itália, em janeiro de 2017, como correspondente internacional do Esporte Interativo. Sonhos. Sou dessas que acredita.
Vivi, nos últimos três anos, o período mais incrível da minha vida. Tão incrível que só agora eu consegui começar esse blog. Esse espaço será muito mais pessoal que profissional, para novidades, devaneios, experiências, viagens e, eventualmente, futebol!
Um beijo (um queijo, um caranguejo)!